Olá, leitor. Que bom ter você por aqui. Nesse final de domingo, vamos ter uma conversa íntima sobre sobre a passagem do tempo – e a nossa percepção dela – e sobre dar-se uma nova chance a cada ciclo.
Durante a semana que se passou, estive pensando em como o final de março e a chegada de abril significam que o primeiro trimestre do ano já se foi. Ainda nessa lógica, é o mesmo que pensar que 25% dos 365 dias, que todos os anos nos são dados, já foram gastos. Um quarto dessa parcela de tempo já terminou. E, então, me peguei pensando em tudo que fiz até aqui.
Se metade da metade do ano já aconteceu, por que você não conseguiu cumprir com exatamente tudo aquilo que havíamos planejado, minha querida eu do passado-não-tão-distante?, pensei comigo mesma, me castigando, como sempre. Invalidando todos os meus passos dados, ignorando todo o aprendizado que venho vivendo durante esses primeiros meses de um ano que, posso dizer, está sendo desafiador. Quanta maldade!
Agora, quando repenso esses três meses, percebo que minha vida tomou rumos bem diferentes de tudo o que eu imaginava lá no começo, em janeiro, perto da virada do ano. E a sua, leitor? Tudo seguiu de acordo com as metas de ano novo?
Confesso que ainda estou bastante insatisfeita com o não-rumo de algumas coisas que já gostaria de estar pensando, fazendo, (re)agindo, praticando. Me sinto triste por ainda não conseguir inserir todo e cada plano de um dia-a-dia perfeito que eu idealizo com os meus papéis e canetas. No entanto, estou experimentando uma forma de viver que era, antes desses dias, totalmente desconhecida. Vivenciando, sentindo em cada centímetro da pele uma rotina totalmente nova.
É estranho estar no inícios dos vinte anos. Logo completarei vinte e dois. Escrevo, agora, deste ponto da estrada. Às vezes, eu sinto o peso de uma adultez todo sobre mim, caindo como uma tempestade de areia no meu varal de roupas lavadas. Outras vezes, choro como se tivesse acabado de nascer. Talvez seja culpa dessas coisas da vida adulta que pesam, principalmente a responsabilidade. Ou, quem sabe, crescer seja, constantemente, sentir a mesma dor que sentimos quando bebês recém-nascidos, no momento de vir-a-ser neste mundo.
E como dói esse momento. Todos sabemos como, mas por vezes nos esquecemos de como essa dor é. Até que crescemos, completamos a escola, o ensino médio, a maioridade, a graduação, e a vida nos faz questão de nos lembrar como é ser expelido de um lugar seguro, jogado em infinitas possibilidades de viver. Mas como viver?, essa dúvida que nos desespera, nos acompanha desde sempre.
Apesar das frustrações, angústias e dúvidas, me esforço para ser grata por esse solo do agora. Por cada folha seca, cada galho morto, cada flor murcha, cada sombra que cria imagens no chão e na superfície do meu corpo e me lembra de que, antes de voltar a florir, é necessário tempo, e, sobretudo, paciência.
Escolher seguir com as mesmas rotinas ou mudá-las, afinal, é o grande superpoder do ser humano, não é? O poder de escolha, a liberdade do que fazer com a própria vida. Ainda assim, precisamos saber reconhecer o tempo do nosso corpo-solo-natureza, e sermos gentis com – e apesar de – nossas limitações.
Sabe... acho que eu nunca fui, antes, tão atenta assim a certas coisas. À passagem dos dias, às chegadas e despedidas das estações, aos encerramentos e inícios de ciclos – e cada vez mais eu percebo quantos deles existem nesse viver!
E, apesar de agora conseguir enxergar certa beleza nesse processo todo de ser alguém melhor para si mesmo, reconheço que essa ainda é uma batalha diária. Afinal, não é nada fácil estar constantemente enfrentando nossas próprias perdas, as mortes de versões que não mais podemos ser e carregar por aí. E então, ter coragem para enfrentar o tempo de abrir espaço para que possamos cultivar um alguém novinho em folha. Mas, ah, ainda bem que sempre há uma nova possibilidade, um novo dia...
No fim, acho que crescer acaba sendo quase que como renascer enquanto ser humano. Como dar a si novas chances de ser, de renascer, em cada ciclo que se fecha – o fim do dia, o fim da semana, do mês, do trimestre, do semestre, do ano... Ou pode apenas parecer isso porque é quando descobrimos quem realmente somos, quanto tomamos consciência da nossa autorresponsabilidade. Não sei... o que sei é que, um dia, entenderei. Por enquanto, vivo.
E quanto a você, leitor... bom, eu espero que, caso você também esteja enfrentando um momento confuso e difícil, encontre os seus caminhos e suas respostas. Que você possa se dar novas chances sempre que precisar. E que você tenha se encontrado em alguns desses pedaços.
Até a próxima!
Intertextualizada
por Mariana Casarin Frata
02 de abril de 2023
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